<MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=15 mm><LF=164 mm><AF=258 mm><FIOH=2 pt><MF=27 mm><PF=40 mm><LF=164 mm>ATA DA VIGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 11.09.1997.

 


Aos onze dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os oitenta anos da "Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense, nos termos do Requerimento nº 51/97 (Processo nº 801/97), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a  MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Maurício Soibelmann, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; o Senhor Samuel Burd, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas; o Senhor Henrique Feter, Presidente do Centro Israelita Portoalegrense; o Senhor Iehuda Gitelman, Orientador Religioso do Centro Israelita Portoalegrense; o Senhor Ricardo Goethe, representante do Senhor Vice-Prefeito Municipal; o Rabino Mender Liberov; o Vereador Lauro Hagemann, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presença do Senhor Salomon Zaidenbant, Oficiante da Sinagoga do Centro Israelita; do Senhor Bóris Wainstein, Presidente da Sinagoga da União Israelita; do Senhor Mário Amespach, Presidente do Conselho Religioso da Federação Israelita; dos Senhores David Ianosgrodski, Simão Cogan, Milton Citrin e Pascoal Lewkowitch, respectivamente, Assessor de Marketing, Presidente do Conselho Deliberativo, Diretor e Tesoureiro do Centro Israelita Portoalegrense; da Senhora Iara Feter; da Senhora Dora Wainbeerg, representante do Movimento Israel-Brasil; da Senhora Sarah Gerber, representante da "Na'amat Pioneiras"; da Senhora Dora Stifelman, representante das Damas de Caridade; do Senhor Jacó Alperin, Presidente da Associação Israelita. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn,  em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB e PSB, externou sua satisfação em participar da presente homenagem, narrando fatos referentes à chegada dos imigrantes judeus no País e salientando a importância da Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense na consolidação dos valores morais, religiosos e éticos da comunidade judaica. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre a atuação da Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense junto à comunidade do Município, declarando ser esta instituição um importante elemento constitutivo da história de Porto Alegre. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB, teceu considerações acerca das atividades realizadas pela Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense, no sentido de difundir e  perpetuar as tradições da comunidade judaica em Porto Alegre. Na oportunidade, o Vereador Clovis Ilgenfritz informou que teria de se ausentar da presente homenagem, passando a direção dos trabalhos ao Vereador Isaac Ainhorn. A seguir, foi dado continuidade aos pronunciamentos dos Senhores Vereadores. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PSDB, homenageou a Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense, ressaltando as relações sociais de trabalho e amizade que a comunidade israelita soube manter com o povo desta Cidade, desde a chegada dos primeiros imigrantes judeus. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, saudou a Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense pelo transcurso dos seus oitenta anos, tecendo análises acerca da contribuição dos imigrantes judeus para a formação e desenvolvimento da sociedade brasileira. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, afirmou a justeza da presente homenagem, discorrendo sobre as relações de amizade mantidas por Sua Excelência com representantes da comunidade judaica. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Henrique Feter, que, em nome da Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, às dezessete horas e um minuto, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Clovis Ilgenfritz e Isaac Ainhorn e secretariados pelo Vereador Lauro Hagemann, Secretário "ad hoc". Do que eu, Lauro Hagemann, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): É com muita satisfação e com muita honra que abrimos a 20ª Sessão Solene, da Sessão Legislativa Ordinária, da 12º Legislatura, destinada a homenagear os 80 anos da Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense, conforme Projeto de Lei do Legislativo nº. 51, Processo 801/97, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn. Até o momento em que apresentou era dele, depois passou a ser de toda a Câmara, porque foi aprovado por unanimidade.

Convidamos, para compor a Mesa, o Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Sr. Maurício Soibelmann; o Presidente do Conselho das Entidades Judáicas, Sr. Samuel Burd;  o Presidente do Centro Israelita Portoalegrense, Sr. Henrique Feter; o Orientador Religioso do Centro Israelita Portoalegrense, Sr. Iehuda Gitelman; o representante do Prefeito Municipal em exercício, Sr. Ricardo Gothe.

Convidamos, também, para fazer parte da Mesa o Rabino Mender Liberov. Convidamos a todos para ouvirmos, de pé, o Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Registramos a presença dos Vereadores Adeli Sell, João Dib e Lauro Hagemann. Com a palavra o Ver. Isaac Ainhorn, nosso 1º Vice-Presidente e Ex-Presidente da Casa, que fala em nome do PDT, PTB, PMDB e PSB.

 

O SR. ISAAC AINHORN:  Exmo. Sr. Presidente desta Casa, Ver. Clovis Ilgenfritz; meu caro Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Arquiteto Maurício Soibelmann; meu caro Presidente do Conselho das Entidades Judaícas do Rio Grande do Sul, Dr. Samuel Burd; Presidente do Centro Israelita Portoalegrense, Sr. Henrique Fetter; Prezado Dr. Ricardo Gothe, que representa o Vice-Prefeito nesta solenidade, o Sr. José Fortunati; meu caro orientador religioso e guia espiritual do Centro Israelita Portoalegrense, Iehuda Gitelmann; meu querido Rabino Mender Liberov,  meus colegas Vereadores; Senhores e Senhoras convidados.

Não poderia deixar passar sem um registro especial o 80º aniversário de existência o Centro Israelita Portoalegrense por parte da Câmara Municipal de Porto Alegre, já que a presença dessa Instituição se constitui numa marca muito forte, não só no âmbito da comunidade judaica, mas no conjunto da sociedade porto-alegrense e rio-grandense.

 O velho prédio, a velha e antiga Sinagoga do Centro Israelita Porto-alegrense está  localizada e instalada, há mais de 40 anos, na Rua Henrique Dias, nº 73, e,  antes, esteve ali pelo Bairro, tendo o seu início na Rua Santo Antônio. Passaram pelas suas ruas, naquele Bairro, que ficou conhecido como o bairro da comunidade judaica, filhos e descendentes dos fundadores dessa Instituição, que encontram-se aqui presentes. Menciono o caso do Dr. Eizirik, que se encontra aqui e que teve o seu pai como um dos fundadores dessa Instituição, que  hoje atinge os seus 80 anos.

Recordo-me muito bem de um dado que julgo importante, e que liga essa Entidade ao conjunto da comunidade porto-alegrense, bem como a esta Casa. Há dez anos atrás, neste mesmo mês, era Presidente dessa Instituição o Sr. Simão Cogan, que está aqui presente, e, naquela oportunidade, celebrávamos, - e o Simão há de se recordar - os 70 anos do Centro Israelita. Através dos parlamentares desta Legislatura e no conjunto das legislaturas que vêm se sucedendo, sobretudo na sua nova fase, de reabertura após o Estado Novo, em 1947, esta Casa tem ligações fortes e muito enraizadas com a comunidade judaica. Aqui, tradicionalmente são realizados atos ligados à comunidade judaica, à história dessa comunidade, ao Estado de Israel, e a tantos outros eventos.

 Nesta semana mesmo, esta Casa foi palco de um ato público que teve o apoio do seu Presidente, Vereador Clovis Ilgenfritz, que cedeu estas instalações, tão logo solicitado, para que aqui se realizasse um ato público de repúdio aos acontecimentos terroristas que vive o Estado de Israel. Esta Casa, que tem uma lei que identifica o dia 14 de maio como o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel. E, de dez em dez anos, prestamos uma homenagem ao Centro Israelita Portoalegrense, e quando também a Sinagoga Israelita completou oitenta anos, esta Casa também realizou ato idêntico, solenidade de reconhecimento à importância dessa instituição, da comunidade judaica, mas que há de se reconhecer não só a importância do seu trabalho de natureza religiosa, como também o trabalho que se desenvolve nessa instituição a partir dos valores religiosos, morais e éticos dessa comunidade que é herdeira de uma das mais  ricas tradições culturais da história da humanidade.

É dentro dessa ótica que, neste ano, por ocasião dos oitenta anos do Centro Israelita Portoalegrense - que leva o nome de Porto Alegre no seu nome -, se abriu uma campanha que teve repercussão estadual e nacional, sob a expressão: "Diga não às drogas". Através de conferências, através de atos de benemerência,  vem desenvolvendo um trabalho de extrema importância frente a esse mal que aflige a sociedade mundial. E essa instituição, que tem valores morais, religiosos e éticos, não se afasta dos seus propósitos, pelo contrário, embasada nos seus princípios e na sua fé, desenvolve atividades de natureza social. Esteve presente também, recordo-me, quando Betinho lançou a sua histórica campanha de ajuda aos necessitados. Ali esteve fazendo campanhas, participando de ações comunitárias de  natureza benemerente.

 Para que fique registrado nos Anais desta Casa, e para que fique registrado na história desta Cidade - nós temos a obrigação de fazer esses relatos da história dessa Instituição. Ela desenvolve um trabalho que, ao final do século XX, e ao entrarmos no 3º milênio da Era Cristã, é herdeira de toda uma tradição onde o cristianismo também se identifica como uma tradição oriunda do próprio judaísmo, dentro do espírito das religiões monoteístas. É indiscutível que o fator religiosidade não é mais, de uma forma muito mecânica, esquemática, compreendido como um ópio do povo, não, hoje a visão que se está tendo, com todo o avanço tecnológico, científico, é de que a religião tem uma importância fundamental na vida dos seres humanos, sem o que muito se perde em termos da compreensão do nosso próprio sentido e do papel que desenvolvemos na nossa vida terrena.

 O Centro Israelita, dentro desse quadro todo, surgiu no ano de 1917, quando estourava, na Rússia czarista, a Revolução Russa, que já era uma manifestação da crise daquela sociedade autocrática, que tinha como base, e como sustentação,  através dos Progrons, a perseguição aos judeus, através de violências que eram praticadas nas pequenas cidades russas e da Europa Oriental contra a comunidade judaica. Alguns aderiram à utopia de uma sociedade igualitária, outros, sob o pavor daquilo que acontecia na Europa Oriental, resolveram emigrar, e aqui, oficialmente no ano de l904,  marcou-se o início da vinda dos judeus para o Brasil, embora nós possamos afirmar, com absoluta tranqüilidade, que os primeiros a pisarem a então Terra de Santa Cruz já eram judeus que vinham perseguidos da Inquisição e aqui participaram da construção de toda essa herança que temos hoje em nossa  terra.

No século XX,  houve grandes perseguições  aos judeus na Europa Oriental e muitos vieram para cá.  Muitos judeus, oriundos da Rússia, participaram da construção e da concretização dessa Sinagoga, porque as perseguições, infelizmente, atingiam até a sua possibilidade de crer na sua religião, nos seus elementos, na sua Torah. Nesses parâmetros e nessas solenidades se propagava uma grande perseguição. Poderíamos continuar e fazer de tudo isso uma grande análise, um grande estudo sociológico sobre todos os fatos históricos que têm o seu nascedouro em inúmeras  questões antecedentes, e que trouxeram os judeus,  no século XX, aos Estados Unidos, à América do Norte e à América do Sul  aqui formando  uma comunidade que teve o seu marco em 1904 e que já era produto das perseguições.

 O Centro Israelita em 1917  era criado, e  grupos maiores  vieram para cá exatamente sob a ascensão do espectro da Alemanha nazista. E hoje, passados 80 anos desse processo de fundação do Centro Israelita Portoalegrense - integrado, por que não dizer, ao próprio processo de toda essa  história mundial -, estamos aqui prestando um preito de reconhecimento por essa história, por essas contribuições que proporcionou, surgindo de uma forma não-pretensiosa com o objetivo de dar atendimento religioso, atendimento aos seus rituais alimentares, aos seus  rituais funerários. Dentro de tudo isso nasceu o Centro Israelita Portoalegrense, que, maduramente comemora, nestes dias, os seus 80 anos.

Oxalá estejamos aqui para comemorarmos os seus 90 anos, e, com certeza, alguém estará aqui por ocasião do seu centenário. Certamente nesta Instituição, que é a expressão maior da democracia municipal, estarão reunidos, homenageando o Centro Israelita Portoalegrense pelo seu centenário, os nossos descendentes. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa manifesta a expressão do Plenário de que "quem vai estar aqui é o Sr. Isaac Ainhorn". Queremos considerar como extensão da Mesa o Sr. Salomon Zaidenbant, Oficiante da Sinagoga do Centro Israelita; Sr. Bóris Wainstein, Presidente da Sinagoga da União Israelita; Dr. Mário Amespach, Presidente do Conselho Religioso da Federação Israelita; o colega nosso Sr. David Ianosgrodski; Assessor de Marketing do Centro Israelita; o Sr. Simão Cogan, Presidente do Conselho Deliberativo do Centro Israelita Portoalegrense; Sr. Mílton Citrin, Diretor do Centro Israelita; Sr. Pascoal Lewkowitch, Tesoureiro do Centro Israelita; Sra. Iara Fetter, esposa do Presidente do Centro Israelita; Sra. Dora Wainbeerg, representante do MOVIMBRAEL, Movimento Israel-Brasil; Sra. Sarah Gerber, representante da Na'amat Pioneiras;  Sra. Dora Stifelman, representante  das Damas de Caridade e Sr. Jacó Alperin, Presidente da Associação Israelita.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra, em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ADELI SELL: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Coube a mim o privilégio de representar aqui a Bancada do Partido dos Trabalhadores, composta de 12 Vereadores, incluindo o nosso Presidente Clovis Ilgenfritz. Trago uma saudação especial  do nosso Líder, Ver. Gerson Almeida.

Falar dos 80 anos da Sinagoga do Centro Israelita Portoalegrense é assunto de extrema importância, porque não é apenas lembrar uma data e uma instituição, é lembrar muito mais, é lembrar uma história, uma tradição. É isso que tentaremos fazer aqui com breves palavras.

Também queremo-nos referir  àquilo que essa instituição e toda a tradição judaica trouxe para o mundo, para os dias atuais e para a nossa Capital, porque ela é parte importante, constitutiva da tradição de Porto Alegre, não apenas de um bairro, o mais conhecido, talvez, da sua comunidade, mas de toda a Porto Alegre.

 Gostaria de falar, Ver. Isaac Ainhorn, sobre campanhas  já desenvolvidas, e desenvolvidas neste ano, como é a campanha contra as drogas. Nada mais feliz, nada mais importante do que uma instituição fazer um movimento real e concreto sobre um dos maiores problemas que atingem a nossa população, em especial a nossa juventude. Precisamos de campanhas, de atividades deste quilate, mais e mais. E tenho certeza de que essa Instituição fará isso no decorrer dos anos. Como aqui foi dito, talvez quando comemorarmos o seu centenário lembraremos de mais  algumas dezenas de campanhas e atividades desenvolvidas. Mas essa em especial tem que ser, neste ano, ao comemorarmos 80 anos da Sinagoga,  lembrada, enfatizada, propagandeada não apenas em Porto Alegre mas no País afora, porque o que vemos é o desespero, é isso que assistimos diariamente, não no rádio, na televisão ou nos jornais, mas nas ruas das nossas Cidades, no rosto de uma juventude desgovernada e desnorteada. Por isso enfatizo essa meritória campanha contra o uso das drogas, que, sem dúvida nenhuma, tem a nossa solidariedade e o nosso apoio.

Mas não poderia deixar de falar em uma outra grande droga que persegue a nossa humanidade, que é o ódio e o rancor entre povos e nações. Já foram ditas aqui as perseguições que houve no passado, mas elas não terminaram, infelizmente.

Estamos concluindo este curto século XX com enormes problemas, enormes conflitos. Precisamos aqui registrar, marcar a nossa presença na luta pela paz, pela harmonia entre os povos. E esse é um templo, um lugar de orações, e tenho certeza de que, quando há uma oração, ela não se restringe apenas ao cotidiano de quem está na Sinagoga, aos seus problemas, aos problemas de sua família e de seus vizinhos. Tenho certeza de que, quando há uma oração, ela é pela paz no mundo, porque não podemos ser uma sociedade feliz, não podemos olhar com tranqüilidade para o século vindouro, para o próximo milênio, se não alcançarmos objetivamente com nossa ação, como nossa determinação, a luta pela paz. E hoje é uma data importante para que possamos registrar de forma enfática essa questão, para que nenhum ódio, nenhum rancor entre os povos continue, e que as perseguições do passado sejam um fato registrado na nossa história, mas que a história do próximo século não registre mais esses tristes  e lamentáveis episódios. Estamos, aqui, com os Senhores e Senhoras irmanados com esse espírito, com essa determinação para homenagearmos os 80 anos  da Sinagoga Centro Israelita Portoalegrense. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar como extensão da Mesa a presença  do Dr. Jacó Alperin - Presidente da Associação Israelita. Estão presentes também o Ver. Antonio Hohlfeldt e o Ver. Reginaldo Pujol. O Ver. João Dib está com a palavra.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Clovis Ilgenfritz. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, sempre digo que o tempo não passa; nós é que passamos, sem que ele seja modificado. E se o tempo não passa, porque estamos aqui para comemorar os 80 anos do Centro Israelita Portoalegrense?  É porque, ao longo desse tempo que não passou, mas nós passamos e, também,  marcamos profundamente, com acontecimentos, o tempo que nos vê passar.

 Oitenta anos, na vida de uma pessoa, parece ser uma idade muito alentada - a minha mãe tem noventa e três anos. Mas oitenta  anos na vida de uma entidade, ela apenas está se tornando mais e mais forte. Ela está mostrando à sociedade, à coletividade, que ela pode ser efetiva, presente e capaz de trazer benefícios para todos nós. Oitenta anos no relógio são vinte e nove mil e duzentos e vinte dias. Parece muito tempo, mas não é. Na verdade, nós vamos ver o Centro Israelita Portoalegrense crescer mais e mais,  e nós não vamos falar aqui da coragem dos primeiros judeus que lá, no dia 12 de setembro de 1917, liderados pelo Sr. Simão Lerrer, resolveram criar o Centro Portoalegrense,  lá na rua Santo Antônio,  já precisou coragem. E essa coragem marcou o tempo, para passar, então, da Santo Antônio, vender aqueles pequenos chalés e se transportarem para a Henrique Dias, numa sede nova que parecia ser a sede definitiva. Mas, em 1950, o Sr. Israel Staloster marcava muito mais profundamente o tempo, porque ele estava a dizer e sentir que havia a necessidade de uma sede maior e que hoje nós temos e a consideramos maravilhosa, bonita. É realmente acolhedora. Eu estive lá no sábado. Parecia, então, que precisava muita coragem para fazer o que ele fez. Desmanchou a sede antiga e, no ano seguinte, em menos de um ano, ele estava fazendo as comemorações, do Novo Ano Judeu, na sede nova, que está sempre sendo mantida, está sempre crescendo, está sempre acolhendo os que a ela se dirigem, dando assistência espiritual, assistência religiosa, assistência social, mostrando que é possível haver paz, entendimento, relacionamento puro e sadio entre as pessoas, que é o que disse o Ver. Adeli Sell.

Nós precisamos mesmo  de paz. Não vou falar dos presidentes, nem do meu amigo Simão Cogan que foi meu colega no Júlio de Castilhos. Mas eu quero dizer que achei extraordinário o que o Centro se propõe fazer para a coletividade. Eu leio aqui que tem como meta prioritária difundir  e perpetuar  as tradições judaicas.  Acho importante que todos cultuem as suas tradições, porque senão o mundo não seria o que é, e não estaríamos, permanentemente, aprendendo com aquelas pessoas que sofreram as dificuldades, que enfrentaram os problemas e os transformaram em soluções.

Aprendemos permanentemente cultuando as nossas  tradições, o nosso passado e difundindo aquilo que é nosso, mas transmitindo a realidade atual e  não esquecendo nunca o conceito da família. Aqui, se é possível,  eu tiro o chapéu e não o uso, acho a família a coisa mais  importante na vida da sociedade e, infelizmente, é a família a mais esquecida por todos nós.

 Já disse  desta tribuna reiteradas vezes que temos uma Lei Orgânica com muitos artigos, três vezes mais artigos do que a anterior e nenhum desses artigos está  dirigido à família. A Lei anterior  tinha um capítulo dirigido à família e quando eu vejo que há preocupação com a família sinto que nem tudo está perdido, porque a família é o somatório de todas as coisas boas que acontecem e também das más, e as más acontecem porque a família não é prestigiada, e o Centro Israelita Portoalegrense se preocupa com a família. E eu fico imensamente feliz por isso.

Saúdo aqueles que têm a responsabilidade de dirigir  o Centro Israelita Portoalegrense,  meu amigo Henrique Feter que agora o preside; o  querido rabino Iehuda Gitelman;  o cantor que assisti no sábado e achei que tem voz excelente,  Salomon Zaidenbant e o amigo  David Ianosgrodski que faz o marketing, e sabe fazê-lo,  perfeitamente.

Saúdo a todos  e digo que vocês têm a responsabilidade de continuar lutando para que a família seja sempre o máximo e que a paz esteja presente entre todos nós. Acredito  na competência de cada um pelo carinho que fazem o seu trabalho. A todos digo: saúde, paz, e shalom. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Peço licença a todos  pois fui chamado para atender a uma audiência que já estava marcada, com o Sr. Presidente do TRENSURB. Solicito ao Ver. Isaac Ainhorn que assuma a presidência dos trabalhos durante a minha ausência.

Gostaria, antes de me retirar do Plenário dizer que foi uma grande honra poder participar desta Sessão. Eu sou natural da cidade de Ijuí e lá tive muitos amigos de infância israelitas. Agora uma sobrinha conseguiu-me um sobrinho israelita  que é o Márcio Guss e que é casado com a minha sobrinha Izabela e que me chama carinhosamente de tio.

Quero dizer a todos do nosso empenho, junto aos demais Vereadores da Casa, em apoiar as atividades da Sinagoga e, em especial, apoiar os movimento pela paz. Perdoem a minha saída.

O Ver. Isaac Ainhorn assume a presidência dos trabalhos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra para falar em nome de sua Bancada o PSDB.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais integrantes da Mesa, neste ato. (Saúda os demais componentes da Mesa.) A primeira coisa, Sr. Presidente, prezados Senhores e Senhoras que aqui se encontram, e tantos integrantes da comunidade israelita desta Cidade, com quem tenho tido o prazer de,  em várias ocasiões,  encontrar e dividir momentos importantes da história da nossa Porto Alegre. O que me chama a atenção é o fato de termos tantos Vereadores presentes, para se manifestarem em nome de suas Bancadas.

Falava o Ver. João Dib no aspecto da família. E me permito pegar o gancho de V. Exa, como dizemos no jargão do jornalismo, e ampliar esse conceito, não apenas a família no sentido das relações consangüíneas, mas a família, também, no sentido das relações sociais  de amizade e influência, que a comunidade israelita tem sabido desenvolver, não apenas em Porto Alegre, mas em todos os lugares onde tem-se representado. E na verdade se representa em todos os lugares do mundo. O que poderia pesar como um estigma foi transformado pela comunidade judaica numa qualidade, numa capacidade de integração com diferentes povos, diferentes sociedades, as vezes falando idiomas totalmente diversos, as vezes encontrando culturas totalmente opostas, mas, a elas se adaptando, sobre elas influenciando de maneira a ampliar aquele espaço que ocuparia, tradicionalmente, e se tornar, não apenas parte, como muitas vezes, mas a vanguarda de tantas coisas desses lugares.

Vou-me permitir lembrar, com a licença do David, com quem conversei tantas vezes, sobre a história da comunidade judaica, aqui em Porto Alegre. Convivo com ele desde os 18 ou 19 anos, meus, porque o David já tinha muito mais, quando ele apresentava a Hora Israelita na Rádio Pampa, e eu entrava no microfone logo depois para fazer um programa de cultura. E lembrar que na minha vida de jornalista, depois acabarei desembocando nesta Casa, fui encontrando gente dessa comunidade, gente como o Maurício Rosemblat, que me abriu o mundo dos livreiros, editores, Feira do Livro e sobretudo desses misteriosos amores pelos livros antigos que a gente vai comprando em sebos e vai levando para Casa,  guardando e, depois, ninguém nos tira de  maneira alguma. Alguém, como Herbert Karo que há poucos dias homenageávamos na inauguração da Praça com seu nome, numa iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn. E fiz questão de estar lá presente por tudo o que devo ao Dr. Karo, e deverei ao longo desses anos. Quero lembrar também a figura fantástica de Eva Sopher, pois, sem ela o nosso Theatro São Pedro não estaria aí, com o nome e o trabalho que tem. De gente mais nova, como por exemplo, a Eva Schul, que representa, hoje, o nosso melhor nome na coreografia, na dança de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e,provavelmente, do Brasil.  Quero relembrar os Scliar, e tem que ser no plural, porque desde o velho Scliar, que criou o Clube de Cultura, ao mais jovem deles, que é o Moacyr, que, de vez em quando, cruza lá pelo nosso Centro, e creio que ele tenha um "dedinho" nessa iniciativa fantástica que foi a de vocês realizarem a I Feira do livro Judaico, há pouco tempo.

Essas coisas - e estou citando apenas algumas que me vêm rapidamente à memória - mostram que a participação da comunidade israelita, em Porto Alegre, não se cingiu a um espaço físico, a um lugar, a um gueto, como muitas vezes vimos em alguns lugares, não por definição dessa comunidade, mas por imposição das demais comunidades, mas ela foi capaz de, em Porto Alegre, a partir de um bairro ou de um lugar, espalhar-se não apenas fisicamente por toda a Cidade, mas espalhar-se por todos os corações dos porto-alegrenses, porque duvido que alguma coisa de importante, nesta Cidade, que tenha acontecido, não tenha acontecido, também, através da comunidade que hoje está sendo homenageada, e muito especialmente desse Centro.

Permito-me aqui uma memória de infância: quando andava pelas ruas de Porto Alegre, menino de 12, 13 ou 14 anos, sempre tive a curiosidade de, olhando aquele prédio, saber o que tinha lá dentro. Depois de eleito Vereador, a convite, dentre outros, do Dr. Samuel, tive a oportunidade de num belo dia  ir lá, na condição de Vereador, na representação formal da Cidade, participar de uma das tantas atividades. Confesso aos Senhores que me emocionou não apenas a religiosidade, mas saber que, de certa maneira, nós tínhamos transportado, para Porto Alegre, um pedaço da história de um povo que tem milhares e milhares de anos. E que é a história da humanidade e não apenas de um segmento dessa humanidade. Mesmo aqueles que talvez desconheçam, tenham perseguido e tenham negado, acabam tendo que referenciar, necessariamente, essa mesma comunidade, essa mesma cultura. E é nesse sentido que me parece que o  conceito de família que o Ver. João Dib aqui resgatou e destacou. Tem também, essa possibilidade da  ampliação, pois  vocês conseguiram um milagre verdadeiramente fantástico: dispersados, expulsos e condenados, vocês teimam, resistem, se  reúnem e são capazes de agregar mais gente.

Há poucos dias, revia na televisão, o filme ainda recente, "A lista de Schindler", e creio que as emoções que se experimenta, nós, que não somos membros diretos dessa comunidade,  são tão fortes, sobretudo em toda a finalização do filme, quando se sai daquilo que até poderia ser uma ficção, e se passa às imagens reais dos descendentes, aqueles homens e mulheres que ainda hoje podem depor sobre o que aconteceu ao longo da II Guerra. Essas imagens parece-me que depõem com uma força fantástica e são muito importantes para que não esqueçamos, jamais, o que essa comunidade foi capaz de fazer. Não foi só uma luta pela sobrevivência dos Senhores, daqueles que estavam  prisioneiros, daqueles que enfrentaram o campo de concentração, mas foi,  sobretudo, uma luta que garantiu  a dignidade da pessoa humana. Se vocês não tivessem feito aquilo que foi feito, certamente o homem seria menos homem hoje no final do século XX.

 Nesse sentido deixo o meu registro, a minha alegria de poder, em nome do Partido da Social Democracia Brasileira e dos meus companheiros Vereadores, Anamaria Negroni e Cláudio Sebenelo, trazer o abraço, sabendo que, muito especialmente nessa Sinagoga, nesse Centro, temos uma preocupação que não se restringe a um ou outro campo de atividade, mas que se tornou, de fato, uma  referência na cidade de Porto Alegre aberta não apenas às questões  da comunidade específica, mas aberta às questões de toda a comunidade e com ela, portanto, constituindo verdadeiramente uma família. Como bem disse o Ver.  Isaac, espero que, de fato, nos próximos trinta anos - não eu  com toda a certeza mas outros companheiros - estejamos aqui marcando um próximo aniversário de um centenário da continuação do trabalho e da luta de todos vocês à qual nos somamos com humildade. E a certeza de que isso nos ilumina, nos ajuda a continuar acreditando na dignidade humana.

 Parabéns, a continuidade dessa luta é fundamental e espero que realmente todos nós tenhamos força para fazer essa continuidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Está com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, que fala pela sua Bancada, o PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN:  (Saúda os componentes da Mesa.) Oitenta anos, em termos históricos, é quase nada, mas, na longa história da diáspora judaica, esses 80 anos significam, para Porto Alegre, um tempo muito precioso. Temos a petulância  de dizer que Porto Alegre é uma Cidade múltipla, e realmente o é. Aqui encontraram abrigo todas  as correntes migratórias que o desejaram, e os judeus vieram para Porto Alegre, como vieram outras correntes, e aqui constituíram  uma alavanca também do nosso progresso.

 No meu caso, oriundo de uma cidade  de origem germânica, geograficamente, sociologicamente distanciada do mundo judeu, eu vim encontrar colegas judeus no Colégio Júlio de Castilhos, e convivemos fraternalmente. Encontrei colegas judeus no campo profissional, no rádio, no jornal, na televisão, encontrei companheiros judeus no mundo político, e aprendi a admirar essa  cultura, a respeitá-la e  a considerá-la como parte do patrimônio da humanidade.  O que esta Câmara está fazendo hoje, homenageando os 80 anos da Sinagoga, do Centro Israelita Portoalegrense, é apenas o coroamento de um processo natural do qual não podemos abdicar. A Cidade se sente engrandecida por esse fato. Ela abrigou, por 80 anos, um grupo de pessoas, uma comunidade que exercitou a sua religiosidade, seus costumes, as suas tradições. E em uma Cidade, em um Estado e País como o nosso, de múltiplas facetas, isso significa um acréscimo, a construção da nossa vida coletiva.

O Brasil, o Rio Grande e Porto Alegre continuam buscando uma identidade. Nós somos ainda um amálgama de muitas culturas, de muitas raças  e de muitos credos. Não sei quando vamos atingir uma síntese disso; talvez nunca,  e talvez esse seja o desafio, de nunca chegarmos lá, mas de nos permitirmos conviver pacificamente como membros de uma comunidade humana múltipla, mas capaz de um entendimento. Esse é o sentido da paz que todos nós buscamos, que foi acentuada aqui hoje, e  no mundo judeu existe uma expressão que é muito conhecida.  Por isso, é com muito prazer que o PPS se associa a essa homenagem dos 80 anos da Sinagoga do Centro Israelita Portoalegrense, uma Entidade que está integrada na Cidade e que gostaríamos de ver prosseguindo o seu trabalho, a sua trilha, com a amizade e o respeito de todos nós.

 Esta Casa se sente engrandecida pelo fato de poder proporcionar esta homenagem. Desejamos que a Sinagoga, que o Centro, que a comunidade tenha plena vivência na nossa Cidade, cada vez mais. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Circunstancialmente ocupo a tribuna como o derradeiro inscrito nesta solenidade. Isso, a um só tempo, é um facilitador e um complicador dessa tarefa.  Facilita porque, depois de ouvir o Ver. Adeli Sell, o Ver. João Dib, o Ver. Antonio Hohfeldt e o Ver. Lauro Hagemann, poderíamos simplesmente afirmar que sublinhávamos e subscrevíamos todas aquelas afirmações que foram feitas acerca da entidade homenageada e de tudo aquilo que ela representa, especialmente como templo da comunidade judaica porto-alegrense.

Esta Casa, sendo uma Casa plural, que recebe pessoas das mais diversas tendências doutrinárias e religiosas, é extremamente exemplificativa do que é a comunidade de Porto Alegre. Nós todos, com freqüência, temos dificuldade  de estabelecer uma coisa de homogêneo  quando vamos perquirir as nossas origens. O Dr. Dib é de Vacaria, o Lauro é de Santa Cruz,  o Adeli é de Santa Catarina, eu mesmo venho das barrancas do Rio Quaraí, na extremadura meridional da Pátria. Quando menino, Ver. Lauro - socorro-me da figura montada por V. Exa. - eu tinha um mundo que se dividia entre brasileiros e castelhanos. O rio era a grande divisão. Nessa situação de conflito absoluto, em que eu só conhecia  duas realidades, ou duas e meia, porque conhecia a brasileira, a uruguaia e a "brasiguaya", aprendi a entender que não há conflitos insuperáveis.

Mais tarde, penso que em torno dos meus dez, onze anos, vim pela primeira vez a Porto Alegre. Era uma Cidade para mim monstruosa, uma coisa indescritível para quem conhecia dois,  três automóveis em Quaraí,  lá por 1950. Cheguei em Porto Alegre e vi aquela quantidade imensa de veículos, ônibus, bondes, toda aquela parafernália que já começava a caracterizar a metrópole dos pampas. Na Av. Osvaldo Aranha, em frente ao Hospital de Pronto Socorro, fui visitar a Sra. Linda Cavalheiro, uma senhora que era funcionária do então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, cujo irmão era Inspetor de Imigração em Quaraí. Fui informado por aquela senhora gentil, que tinha uma república de estudantes, local onde eu estava vivendo, de que  o local que eu estava visitando era um bairro judeu, judaico. Para mim foi o maior choque que eu poderia ter com o mundo exterior, porque eu via que o meu mundo começava a se completar, que além de brasileiros e castelhanos, nós tínhamos outros segmentos étnicos, religiosos, povoando esse mundo de Deus, com os quais tínhamos que conviver.

Não sei se foi por essa singular facilidade, coincidência positiva, e mais ainda pela circunstância de alguns anos depois, radicado em Porto Alegre, ver a minha família estabelecida na Rua João Telles, muito próximo da nossa Sinagoga, e havendo o estreitamento de relações com aqueles jovens meninos da época, dos quais o Isaac era um dos mais atrevido e com os quais fui convivendo longamente, comecei a perceber que o meu pequeno mundo de Quaraí era um átomo de um processo universal muito amplo no qual se inseria, de forma  muito expressiva, a comunidade judaica como um exemplo, um guia de  um povo de obstinado,  que jamais se curvou ante os obstáculos quase que intransponíveis que  lhe foram  colocados na sua marcha e na sua saga e conseguiu, ao longo do tempo, manter a sua  identidade, suas crenças, a sua convicção e unidade cultural.

 A esse povo que se reúne no seu templo hoje homenageado, a esse povo é que eu simbolizo, sintetizo e estendo as minhas homenagens. É evidente que a  homenagem  maior tem que ser às entidades, que a homenagem formal tem que ser dirigida  exatamente à figura do representante da entidade, do Centro Israelita Portoalegrense, Sr. Henrique Feter. Esta é a homenagem formal, a homenagem do coração, a homenagem espontânea a toda a essa comunidade, especialmente a comunidade judaica de Porto Alegre com a qual eu convivo com tanto tempo . Tenho absoluta certeza de que é uma comunidade que exemplifica um povo que quer ser aberto e comprometido com a paz, com o seu Shalom,  com o qual  eu saúdo a todos vocês. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, passadas as manifestações dos Srs. Vereadores que falaram pelos diversos partidos políticos com assento desta Casa,  passamos ao momento em que deferimos a palavra ao representante desta entidade. Nesta oportunidade,  fala a sua figura maior, o Presidente do Centro Israelita Portoalegrense, Henrique Feter.

 

O SR. HENRIQUE FETER:  (Saúda os membros da mesa). É com enorme satisfação que aqui estamos reunidos para receber as homenagens que a Câmara presta ao Centro Israelita Portoalegrense pela passagem do seu 80º ano de fundação.

 Para nossa satisfação e alegria, quis o destino que ao receber tão significativa homenagem estivéssemos na Presidência do Centro. Vejo, por outro lado, e com muita emoção, a presença de muitos descendentes daqueles que há oitenta anos se reuniram  e fundaram nossa sociedade. Oriundos dos mais longínquos lugares da Europa, vindos da Rússia, Polônia, Romênia e tantos outros lugares, aqui chegaram para estabelecer um novo lar e encontrar em nosso Brasil, e particularmente em Porto Alegre, a tão sonhada paz e proteção. Tiveram, no entanto, a necessidade de conservar suas convicções, seus costumes, suas tradições religiosas, e, em vista disso, se reuniram e fundaram uma sociedade que levou originariamente o nome de Sociedade Israelita Religião Misericórdia. Isso em 12 de setembro de 1917. Dita sociedade destinava-se a manter sinagoga, cemitério, difundir e propagar o auxílio mútuo, tanto moral quanto material, a todos os associados, a celebrar as festas religiosas israelitas, bem como as grandes festas nacionais.

Posteriormente, em 4 de maio de 1930 a sociedade passou a se chamar de Centro Israelita Portoalegrense, sociedade civil de caráter religioso legalmente registrada, constituída de crentes da religião mosaica, podendo ter número ilimitado de sócios, sem qualquer distinção de cor, sexo, nacionalidade ou profissão, sociedade esta que está sendo homenageada, e com a graça de Deus continua com os mesmos processos iniciais.

Quero aproveitar e agradecer ao brilhante e incansável Ver. Isaac Ainhorn pela proposição apresentada à Câmara Municipal para que esta homenagem fosse hoje prestada. Quero aproveitar a oportunidade para me congratular e agradecer à Câmara Municipal, na pessoa de seu Presidente e de seus ilustres Vereadores das diversas bancadas, o agradecimento e o reconhecimento eternos do Centro Israelita Portoalegrense.

 Finalmente, desejo, neste momento,  lembrar aqueles que trabalharam para que o Centro Israelita Portoalegrense seja hoje a realidade que é. Vou-me permitir ler os seus nomes. "Abram Obender, Abraham Gontow, Abraham Rus, Abram Dorfman, Abram Tessler,  Anchel Finkel, Afonso Kassoy, Angelo Finkelstein, Benjamim Urmann, Benjamim Kapelevitz, Bernardo Galperim, Bernardo Locchin, Chapse Maltz, Chil Frantz, Chulem Goldenfund, David Epstein, David Berezinski, David Boianovski, Elias Passarov, Ezekiel Becker, Gregorio Zeltzer, Guilherme Melzer, Guilherme Soibelman, Henrique Gurovitz, Ichiel Haus, Isaac Saitovitch, Joseff Lerner, Jacob Maltz, Jacob Pecis, Jayme Loybman, José Kottek, José  Z. Lerner, Julio Becker, Julio Dicler, Leão Lembert, Leão Waldman, Leib Soibelman, Marcos Burd, Marcos Eizerik, Maurício Schames, Maurício Levin, Miguel Kelbert, Natan Gulco, Natan Kottek, Naum Guinsburg, Pinches Kelbert, Rafael Schustoff, Samuel Spiguel, Samuel Suslik, Simão Lerrer, Tobias Krasne, Velvel Cotliar, Velvel Facrman, Wolff Baibich,Zeidel Schuwartz, Zolman Berdichevski." 

A todos a nossa gratidão e o nosso respeito. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de encerrarmos esta Sessão e a  encerraremos com a execução do Hino Rio-Grandense, mais uma vez gostaríamos de agradecer ao Presidente do Centro Israelita Portoalegrense, Sr. Henrique Feter pela lembrança desses nomes tão importantes para a vida dessa entidade. Gostaríamos de agregar nessa lembrança, muito terna e muito carinhosa, ao Centro Israelita duas pessoas que já nos deixaram e com as quais  tive, nestes anos de vida pública, uma proximidade muito grande: de um lado o velho Arão Kosnitzer; de outro lado, uma pessoa que foi muito próxima a mim e que teve um papel muito importante na concepção da minha vida pública e que participou dessa tríade de novos presidentes, que sucedeu ao Simão Cogan, que é o saudoso Valdemar Cantergi. A eles as nossas homenagens.

 Queremos registrar, também, a presença de uma figura muito carinhosa para todos nós, que, por problemas de doença, aqui não está, o nosso querido Isaac Starosta. Convidamos a todos para, de pé, ouvir o Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

(Encerra-se a Sessão às 17h01min.)

 

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